Quatro novas espécies de plantas são descobertas no Espinhaço Mineiro

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Criado: Qua, 15 out 2025 09:52 | Atualizado: Qua, 15 out 2025 11:55
Descobertas reforçam importância da conservação e do Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro para a ciência e a biodiversidade do Norte de Minas


Nos últimos meses, a Serra do Espinhaço Mineiro, no Norte de Minas Gerais, voltou a se destacar no cenário científico internacional. Quatro novas espécies de plantas foram descritas em revistas especializadas, revelando a riqueza biológica dos campos rupestres e a importância da conservação ambiental para a descoberta de novas espécies. As publicações fazem parte das ações do Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro, que reúne esforços de pesquisadores, gestores e instituições em prol da biodiversidade regional.

As novas espécies são: Staelia fimbriata (Rubiaceae) e Wedelia riopardensis (Asteraceae), publicadas na revista Phytotaxa; Eriope carpotricha (Lamiaceae), descrita na Nordic Journal of Botany; e Microlicia geraizeira (Melastomataceae), publicada na Webbia. As descobertas ocorreram na região de Monte Azul e Rio Pardo de Minas, abrangendo áreas como as Serras das Marombas e Serra Nova.

Duas das novas espécies, Staelia fimbriata e Eriope carpotricha, são consideradas microendêmicas da Serra das Marombas, ou seja, ocorrem exclusivamente em áreas muito restritas. Já Wedelia riopardensis e Microlicia geraizeira têm ocorrência registrada em Serra Nova.

Staelia fimbriata, da família do café, é um pequeno arbusto adaptado a solos arenosos e pobres em nutrientes — conhecidos na região como “areais”. Essas condições extremas tornam o ambiente um verdadeiro laboratório natural de adaptação.
Wedelia riopardensis, por sua vez, é uma espécie de margarida de flores amarelas, encontrada em solos arenosos e pedregosos, e cujo nome homenageia o município de Rio Pardo de Minas, onde foi identificada pela primeira vez.

Entre as quatro descobertas, a Eriope carpotricha chama atenção por ser uma nova espécie de árvore, um achado considerado raro. Ocorre em áreas de transição entre a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga, e se distingue pela presença de tricomas (pelos) em frutos e sementes — característica única dentro de seu gênero.

Já a Microlicia geraizeira, da família das quaresmeiras, pode atingir até quatro metros de altura e possui flores brancas. Foi batizada em homenagem ao povo geraizeiro, tradicional do Norte de Minas, cuja cultura está profundamente ligada ao uso sustentável do Cerrado. A espécie foi coletada pela equipe do Centro Nacional de Conservação da Flora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Pesquisa colaborativa e internacional

As expedições de campo que resultaram nas descobertas de Staelia fimbriataEriope carpotricha e Wedelia riopardensis foram lideradas pelo doutorando Danilo Zavatin, da Universidade de São Paulo, com financiamento da Fapesp. As coletas contaram com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e de pesquisadores estrangeiros, como Raymond Harley (Inglaterra) e Roberto Manoel Salas (Argentina).

“Esse tipo de trabalho só é possível graças ao esforço conjunto. Além da equipe do IEF na região, a colaboração internacional mostra o poder da ciência quando há integração entre diferentes instituições”, destaca Danilo.

As novas espécies Staelia fimbriata e Eriope carpotricha não ocorrem dentro de unidades de conservação de proteção integral, o que as torna mais vulneráveis. Por isso, ambas — assim como Wedelia riopardensis — foram classificadas preliminarmente como Criticamente em Perigo, conforme os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Embora a Wedelia riopardensis ocorra dentro do Parque Estadual de Serra Nova e Talhado, a espécie também apresenta populações pequenas e flutuantes, o que justifica a preocupação.

Os trabalhos científicos integram a avaliação rápida de endemismo e estado de conservação da flora endêmica realizada no âmbito do PAT Espinhaço Mineiro, coordenada pelo pesquisador Dr. Renato Ramos, membro do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) do plano.

Segundo Renato, o uso de ferramentas de big data foi fundamental para identificar lacunas de conhecimento científico e orientar as coletas em campo. “A Serra do Espinhaço ainda guarda inúmeras possibilidades de descobertas. A região tem sido um verdadeiro celeiro de novas espécies nos últimos anos, impulsionada pelas ações do IEF e pelo interesse dos servidores que atuam localmente”, afirma o pesquisador.

Apoio do IEF e importância das unidades de conservação

O trabalho contou com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio dos programas Pró-Espécies e Copaíbas, e com a colaboração das equipes dos Parques Estaduais Caminho dos Gerais e Serra Nova e Talhado. A atuação dos gestores Alessandre Custodio (Barrinha) e Graziellys dos Santos Costa foi essencial para a organização das expedições e o fortalecimento das ações de pesquisa e conservação na região.

 

Onde encontrar os artigos

 

Eriope carpotricha:

https://www.researchgate.net/publication/395648998_Eriope_carpotricha_Lamiaceae_Hyptidinae_a_new_critically_endangered_species_from_the_Espinhaco_Range_of_Minas_Gerais_Brazil

 

Staelia fimbriata

https://www.researchgate.net/publication/395883579_Staelia_fimbriata_a_new_species_of_Rubiaceae_Spermacoceae_from_the_Espinhaco_Range_of_Minas_Gerais_southeastern_Brazil

 

Wedelia riopardensis:

https://www.researchgate.net/publication/396400134_Novelties_for_Wedelia_Asteraceae_Heliantheae_in_Minas_Gerais_Brazil_a_new_species_and_a_rediscovery_after_over_70_years

 

Microlicia geraizeira:

https://oaj.fupress.net/index.php/webbia/article/view/17079/13351